Ouro: por que este metal precioso é considerado um porto seguro global?
Um ativo anti-crises, anti-inflação e descorrelacionado das classes de ativos usuais. Momentos históricos levaram o ouro a saltos extraordinários de preços no passado, inclusive mais recentemente. Aprenda a identificar essas situações para você também poder ganhar com a alta do ouro!
Publicado em: 25/12/2024
Última atualização: 25/12/2024
45 minutos de leitura
Mazi Capital
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O ouro tem sido usado como reserva de valor por milênios, atravessando diversas culturas, impérios e civilizações. Desde a sua utilização na fabricação de moedas antigas até a sua função moderna como ativo de refúgio, o metal amarelo continua a desempenhar um papel crucial no mundo das finanças.
Embora 80-90% da produção global seja usada para joias e indústrias de alta tecnologia, como é o caso de alguns eletrônicos especializados, o ouro se comporta mais como um ativo financeiro do que como uma mercadoria física (commodity). Por isso, ele é usado como a base de muitos traders e de gestores de portfólios institucionais. O ouro também tende a impactar outros metais preciosos, como a prata e a platina, ditando os seus preços, ainda que isso ocorra mais com a prata, porque a platina é mais voltada para uso industrial.
Na esfera de diversificação de investimentos, qual é o papel do ouro na composição de uma carteira de investimentos? E por que ele deve ser considerado por investidores que buscam segurança e a valorização de seus recursos?
Por que o ouro é considerado um porto seguro global?
A principal característica do ouro ao longo da história tem sido a sua capacidade de manter o valor, mesmo diante de crises econômicas, guerras ou desvalorização das moedas fiduciárias (baseadas na confiança, sem lastro nenhum), inclusive do dólar. Diferente das moedas estatais, que estão sujeitas à inflação e políticas monetárias, o ouro não depende de nenhum governo ou instituição central. Essa característica torna o metal precioso um ativo de refúgio — especialmente quando os mercados financeiros apresentam grande volatilidade.
Em períodos de incerteza, como recessões econômicas, crises bancárias ou até mesmo desastres naturais, o ouro costuma se valorizar, pois os investidores buscam proteção contra possíveis perdas no mercado de ações e de outros ativos mais sensíveis aos períodos de crise e estresse financeiro. A escassez do metal, combinada com a sua aceitação universal, faz com que ele seja capaz de manter o seu poder de compra em grande medida, mesmo quando outras classes de ativos perdem valor.
É por isso que o ouro é considerado como um “porto seguro” na economia global, uma espécie de ativo anti-crises: a demanda por ouro costuma aumentar em períodos de grandes incertezas, que causam choques nos mercados e alta volatilidade nos preços dos ativos, ou até mesmo diante de inflação alta.
Nesses cenários, os agentes do mercado buscam utilizar as aplicações em ouro como reserva de valor e proteção patrimonial, de forma a proteger os seus recursos das fortes quedas nos preços de ativos da economia real e da corrosão inflacionária.
Houve forte valorização nas cotações de ouro em diversos momentos como esses: as crises do petróleo na década de 70, o estouro da bolha de tecnologia, a crise financeira de 2008, a pandemia de coronavírus e, mais recentemente, o receio de uma recessão global diante de um período de taxas de juros altas nas grandes economias - como pode ser observado no gráfico abaixo:
Fonte: Trade the day website.
Por que o ouro é um ativo anti-inflação?
Outro fator importante para considerar o ouro em uma carteira de investimentos é a sua capacidade de servir como uma proteção contra a inflação.
Vale lembrar que a inflação corrói o poder de compra da moeda, mas o ouro tem conseguido, ao longo das décadas, preservar esse poder.
A cotação do ouro apresenta uma relação inversa com a desvalorização das moedas governamentais na maior parte do tempo. Quando a inflação aumenta, o valor real das moedas diminui, mas o preço do ouro tende a subir, já que ele mantém seu valor intrínseco.
Historicamente, em períodos de alta inflação, o ouro tem superado os retornos das moedas fiduciárias, como o dólar ou o euro. Quando os bancos centrais imprimem dinheiro em grandes quantidades (o que é uma prática comum em períodos de crise e durante mandatos de governos que priorizam aumento de gastos públicos e maior endividamento do Estado), o valor da moeda tende a se deteriorar, enquanto o ouro se beneficia desse movimento, sendo um ativo que resiste ao processo inflacionário.
Como funciona a correlação entre o preço do ouro e as taxas de juros americanas?
A outra situação que impulsiona altas na cotação do ouro consiste na queda das taxas de juros americanas: quando o mercado acredita que o Banco Central dos Estados Unidos irá cortar os juros, começa a cair o interesse dos investidores pelos títulos públicos americanos, porque estes papéis devem passar a oferecer menor remuneração, achatando os juros reais, o que abre espaço para investimentos em outros ativos, entre eles o ouro.
Este é o movimento que observamos em parte do ano de 2023 e ao longo de 2024: uma antecipação do mercado, com expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, impulsionou a demanda e fomentou a alta nos preços do ouro.
Isso mostra que o ouro é bastante descorrelacionado do comportamento das taxas de juros americanas e pode ser um componente de diversificação para o portfólio dos investidores, ajudando a reduzir a volatilidade da carteira como um todo.
Isso ocorre porque quanto menor a correlação, menor a tendência de os ativos se movimentarem na mesma direção. Dessa forma, ao investir em ativos com baixa correlação entre si, você pode reduzir o risco geral da sua carteira, uma vez que, se um ativo tiver um desempenho fraco ou até mesmo negativo, é menos provável que os outros sigam o mesmo caminho. Isso significa que, se um ativo se desvalorizar, outros podem se movimentar na direção oposta, o que pode compensar parcial ou totalmente o pior desempenho de certo ativo.
Como será o futuro do ouro?
Como apresentado ao longo deste artigo, o ouro é significativamente influenciado por mudanças na inflação, nas taxas de juros americanas, por mudanças na moeda (especialmente, no dólar) e por políticas de reservas adotadas pelos bancos centrais. Uma descoberta importante é que a influência destes fatores varia ao longo do tempo, por exemplo, a inflação é um driver importante na década de 1970 e no final dos anos 2000, mas não nas décadas de 1980 e 1990. Por isso, é importante realizar uma análise do cenário como um todo para conseguir decifrar a tendência para o preço do ouro em determinada janela temporal.
O futuro do ouro tende a continuar promissor, principalmente em um contexto de incerteza econômica global, inflação persistente e desaceleração do crescimento. O aumento da demanda por ativos tangíveis e a busca por formas de preservar capital indicam que o ouro continuará sendo uma parte importante das estratégias de investimento.
O ouro tem desempenhado um papel crucial tanto no sistema financeiro global quanto nas estratégias de diversificação e proteção contra riscos. Com a implementação das novas regras de capital do Basel III, o metal precioso tem adquirido uma importância renovada, especialmente entre os bancos centrais que, após a crise financeira de 2008 e as políticas monetárias expansionistas adotadas em diversos países, passaram a ver o ouro não apenas como um ativo de reserva, mas também como uma forma de assegurar maior estabilidade em um ambiente de crescente volatilidade econômica.
Como as regras do Basel III impactam a demanda por ouro?
As regras do Basel III afetam diretamente a posição do ouro no sistema bancário internacional e impulsionam a demanda crescente por ouro por parte dos bancos centrais mundo afora como reflexo dessa mudança na dinâmica do mercado global.
O Basel III é um conjunto de normas internacionais desenvolvidas pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basel (BCBS, na sigla em inglês) com o objetivo de melhorar a regulação, a supervisão e a gestão de riscos no sistema bancário global. Essas regras, que começaram a ser implementadas após a crise financeira global de 2008, visam aumentar a resiliência dos bancos a choques econômicos e financeiros, reduzindo o risco sistêmico e garantindo a estabilidade do sistema financeiro internacional.
Um dos principais pilares do Basel III é a exigência de que os bancos mantenham um capital de alta qualidade (denominado "Tier 1 Capital"), o que os torna mais robustos em tempos de crise. Entre as diversas exigências, destaca-se a ratificação do risco de liquidez e a reclassificação dos ativos que podem ser usados para garantir a estabilidade e solvência dos bancos.
Um dos aspectos mais relevantes do Basel III para os investidores em ouro é a reclassificação do ouro nas normas de exigências de capital. Sob as regras anteriores, o ouro era tratado de maneira relativamente favorável como um ativo de baixo risco e alta liquidez. Com o Basel III, o ouro foi reclassificado e passou a ser tratado como um ativo de risco de crédito zero (Zero Credit Risk), o que significa que ele não exige a mesma quantidade de capital regulatório que outros ativos de risco mais elevado.
Por que o ouro é um ativo sem risco de crédito?
De acordo com as normas do Basel III, os ativos que são considerados sem risco de crédito - ou seja, que não implicam risco de default (calote) da contraparte - não precisam de requisitos adicionais de capital para os bancos. O ouro é um desses ativos, junto com outras moedas nacionais fortes como o dólar, o euro e o franco suíço. Isso ocorre porque o ouro é um ativo tangível e não depende de nenhum emissor ou instituição financeira, o que o torna uma reserva de valor segura e estável.
Isso tem várias implicações para os bancos e investidores:
- Menor exigência de capital: os bancos não precisam manter reservas adicionais de capital para manter ouro em seus balanços, o que torna o ouro um investimento mais atrativo em termos de alavancagem e retorno.
- Aumento da demanda: como o ouro tem uma classificação mais vantajosa no que diz respeito às exigências de capital, ele tem se tornado uma escolha mais interessante para os bancos, que buscam reduzir a volatilidade e melhorar a sua posição de solvência.
Por que Banco Centrais têm aumentado a demanda por ouro?
Nos últimos anos, observou-se uma tendência crescente de compra de ouro por parte dos bancos centrais ao redor do mundo. Diversos fatores estão impulsionando essa mudança e a relação com as regras do Basel III é uma delas. Os bancos centrais, especialmente de economias emergentes e países em desenvolvimento, estão recorrendo ao ouro como uma forma de diversificação das suas reservas, um meio de proteção contra a inflação e uma maneira de reforçar a confiança no sistema monetário de seus respectivos países.
Reunimos a seguir os principais fatores que impulsionam Bancos Centrais a aumentar a demanda por ouro:
1. Incertezas econômicas globais: a volatilidade dos mercados financeiros, as tensões geopolíticas e as incertezas relacionadas a políticas monetárias não convencionais (como taxas de juros negativas e expansões quantitativas) têm levado os bancos centrais a buscar ativos que ofereçam segurança a longo prazo.
2. Desvalorização das moedas fiduciárias: a desvalorização do dólar (especialmente em um contexto de políticas monetárias expansionistas) tem motivado a diversificação das reservas em ouro. Países como China, Rússia e Índia têm aumentado suas reservas de ouro como parte de uma estratégia de mitigação de riscos cambiais.
3. Exigências regulatórias do Basel III: como mencionado, o ouro é classificado como um ativo de baixo risco dentro das normas do Basel III, o que tem incentivado os bancos centrais a aumentar suas reservas de ouro, a fim de melhorar sua posição de capital e, consequentemente, sua resiliência financeira.
4. A busca por ativos seguros: em tempos de crise, o ouro tradicionalmente é visto como um porto seguro. O aumento da demanda por ouro reflete o desejo dos bancos centrais de garantir que suas reservas sejam compostas por ativos que não estejam sujeitos a flutuações abruptas de valor, como os que podem afetar as moedas fiduciárias e outros ativos financeiros.
Qual o impacto dos Bancos Centrais sobre as reservas globais de ouro?
A demanda por ouro pelos bancos centrais tem levado a um aumento nas compras líquidas de ouro desde a década de 2010. Dados do World Gold Council indicam que em 2022, os bancos centrais do mundo compraram 1.136 toneladas de ouro, o maior volume registrado desde os anos 1960. Isso tem implicações significativas no mercado global de ouro, com possíveis aumentos nos preços do metal precioso à medida que a demanda institucional cresce.
Além disso, o fato de o ouro ser agora tratado como um ativo de zero risco de crédito e com menores exigências de capital regulatório pode tornar as compras de ouro mais atrativas para os bancos, que buscam fortalecer suas reservas de capital.
Em um mundo cada vez mais volátil, o ouro se consolida como um refúgio seguro e uma forma de proteção contra os riscos sistêmicos, o que o torna um componente essencial da estratégia financeira de bancos e governos ao redor do mundo. Para os investidores, essa dinâmica oferece oportunidades interessantes de diversificação e valorização do capital, especialmente à medida que os fundamentos econômicos globais continuam a evoluir.
Portanto, tanto o Basel III quanto a demanda crescente por ouro pelos bancos centrais são fatores cruciais a serem observados para quem deseja entender as tendências do mercado financeiro e tomar decisões mais informadas sobre investimentos em ouro.
Como o ouro pode ajudar na diversificação dos investimentos?
A diversificação é um dos pilares fundamentais de uma carteira de investimentos equilibrada. Isso significa distribuir os ativos em diferentes classes para reduzir o risco global. O ouro tem se mostrado um excelente ativo para essa estratégia, porque a sua correlação com outros ativos financeiros, como ações e títulos, tende a ser baixa ou negativa. Isso implica que, quando o mercado de ações cai, o ouro pode se valorizar, funcionando como uma espécie de "hedge" (proteção) contra perdas em outras áreas da carteira.
Por exemplo, durante a crise financeira global de 2008, enquanto os mercados acionários desabaram, o preço do ouro subiu significativamente, refletindo o aumento da demanda por ativos mais seguros. Mais recentemente, em tempos de incerteza geopolítica e inflação crescente, o ouro tem se mostrado uma boa opção de preservação de capital, pois os investidores se protegem da perda do poder de compra das moedas estatais.
Isso ocorre porque estas moedas fiduciárias não possuem lastro (tal como no passado, quando eram lastreadas em ouro ou outros metais preciosos) e são suscetíveis às arbitrariedades de membros do governo e da classe política como um todo, que podem aumentar gastos públicos (política fiscal expansionista), exercer pressão e influência para que haja cortes dos juros básicos de modo artificial, além de mandar o Banco Central emitir dinheiro de maneira desconectada com o aumento da produtividade econômica (política monetária expansionista), fatores que isoladamente ou em conjunto levam à inflação da moeda e, por consequência, ao aumento do nível dos preços de bens e serviços da economia de forma generalizada, o que se configura na perda do poder de compra da moeda estatal.
Embora o ouro não seja um ativo livre de riscos, a sua importância na composição de uma carteira de investimentos não pode ser subestimada. Como uma reserva de valor, uma proteção contra a inflação e uma ferramenta eficaz de diversificação, o ouro continua a desempenhar um papel essencial no equilíbrio de portfólios. Em um ambiente financeiro caracterizado pela volatilidade e incerteza, o metal precioso mantém sua relevância como um ativo seguro e confiável para os investidores que buscam minimizar riscos e preservar o poder de compra de seus recursos ao longo do tempo.
Portanto, incluir uma porção adequada de ouro em sua carteira pode ser uma estratégia inteligente para proteger seu portfólio contra os riscos do mercado e garantir maior estabilidade no longo prazo.
No entanto, é fundamental compreender que, apesar de sua valorização potencial, o ouro não gera fluxo de caixa, como ocorre com ações ou títulos. Ou seja, ele não paga dividendos nem juros, sendo, portanto, mais indicado como uma forma de preservação de valor do que uma fonte de rendimento passivo.
Como você pode lucrar ao investir em ouro?
Existem basicamente duas formas de ganhar com a alta do ouro. A primeira delas é tentar antecipar uma tendência no mercado, que historicamente já tenha culminado na alta dos preços do ouro: como prever uma recessão, uma crise profunda, um choque do petróleo ou qualquer situação que leve a um período inflacionário, ou até mesmo antever o início de um ciclo de cortes nas taxas de juros americanas e o enfraquecimento do dólar, como vimos em outro vídeo que eu publiquei por aqui.
Dessa forma, antecipando um movimento do mercado, o investidor pode se posicionar em ouro visando surfar uma onda de alta na sua cotação numa determinada janela temporal de curto a médio prazo.
A segunda forma de ganhar com a alta do ouro é a que eu recomendo fortemente aos investidores: consiste em ter uma alocação estrutural na commodity, carregando uma exposição ao ouro ao longo do tempo. Neste caso, o investidor pode assumir um percentual razoável que faça sentido para si próprio manter de exposição ao ouro na carteira. Para essa finalidade, eu recomendo uma exposição que vai de 1% a 5% do portfólio dependendo da tolerância ao risco de cada investidor.
Como investir em ouro?
Embora o ouro físico (barras de ouro ou moedas do metal) seja uma forma tradicional de investimento, hoje em dia, os investidores podem optar por uma gama de produtos financeiros que replicam o valor do ouro, como fundos de índice (ETFs) ou contratos futuros.
Esses instrumentos permitem que o investidor acesse a valorização do ouro sem precisar se preocupar com o transporte, armazenamento e segurança do metal físico, inclusive com os custos envolvidos nesses serviços. Além disso, esses produtos podem ser mais líquidos e com custos de transação reduzidos (o que abrange taxas de administração baixíssimas ou nulas, no caso de ETFs), o que facilita a negociação e o gerenciamento do seu portfólio.
Os ETFs (Exchange Traded Funds) de ouro são uma forma prática e acessível de investir no metal precioso. Um ETF de ouro investe diretamente no metal, em algum índice que sintetiza a cotação spot (à vista) do ouro ou em contratos futuros de ouro e, dessa forma, conseguem acompanhar as movimentações nos preços do metal.
Listamos a seguir as principais vantagens de se investir em ETFs de ouro:
- Liquidez: ETFs costumam ser bastante líquidos, podendo ser comprados e vendidos a qualquer momento durante o horário de negociação da Bolsa.
- Diversificação: além de ouro físico, esses fundos podem investir em ações de empresas mineradoras de ouro, oferecendo exposição indireta ao setor.
- Custos menores: comparado à compra de ouro físico, os custos de negociação e manutenção são imensamente mais baixos.
- Acessibilidade: as cotas dos ETFs são negociadas em Bolsas de Valores, por preços mais acessíveis em comparação à compra de ouro físico.
Já do lados das desvantagens de se investir em ouro por meio de ETFs, podemos destacar:
- Exposição ao risco de mercado: o preço de um ETF de ouro pode ser influenciado por fatores que não afetam diretamente o preço do ouro, como custos administrativos e flutuações do mercado financeiro.
- Taxas de administração: embora mais baratas que o ouro físico, os ETFs cobram uma taxa de administração anual.
É possível investir em ETFs de ouro diretamente no mercado internacional ou de forma indireta através de ETFs na B3 (Bolsa brasileira) ou por meio de fundos de investimentos não listados em Bolsa que, por sua vez, alocam os recursos dos cotistas em contratos futuros de ouro ou em ETFs de ouro no exterior.
A vantagem de investir diretamente em um ETF no exterior é reduzir custos transacionais, principalmente com taxas de administração, que costumam ser baixíssimas em corretoras estrangeiras ou por meio de plataformas globais abertas disponíveis em estruturas offshore, como é o caso de trusts. Ao mesmo tempo, a desvantagem de investir em ETFs no Brasil é justamente o maior custo com taxa de administração sobreposta à taxa de administração do ETF listado no exterior no qual o gestor brasileiro investe. Ciente disso, você pode escolher o que melhor te atende.
Entre as possibilidades na Bolsa brasileira (B3), destacam-se os seguintes veículos de investimento em ouro:
Trend ETF LBMA Ouro - GOLD11
O Trend ETF LBMA Ouro (GOLD11) é um fundo indexado que busca replicar a performance do preço do ouro, em dólar, através do investimento em cotas do ETF iShares Gold Trust, por sua vez, listado no exterior e gerido pela BlackRock.
O GOLD11 é listado na bolsa brasileira, gerido pela XP Asset e tem taxa de administração local de 0,30% a.a. Já o iShares Gold Trust (listado no exterior) apresenta taxa de administração de 0,25% a.a., o que faz com que o investimento em GOLD11 acumule uma cobrança maior de taxa de administração total.
Atualmente, o ETF GOLD11 é tributado como Renda Variável, com alíquota de 15% sobre o lucro obtido, imposto que deve ser pago após o resgate.
É possível investir neste ETF através da Bolsa brasileira (B3), basta buscar pelo código GOLD11 na área de bolsa da sua plataforma de investimentos, com a vantagem da acessibilidade, pois ele pode ser negociado de uma em uma cota.
iShares Gold Trust - BIAU39
Outra alternativa para investir em ouro no Brasil é através do BRD de ETF iShares Gold Trust, denominado pelo código BIAU39. Neste caso, o BIAU39 é um BDR que representa o investimento no iShares Gold Trust (IAU).
Por sua vez, o iShares Gold Trust (IAU) é um ETF negociado nos Estados Unidos cujo objetivo é acompanhar o preço do ouro no mercado, ao seguir a variação do índice LBMA Gold Price. Consiste em um dos ETFs de ouro mais negociados no mundo.
Por sua vez, o LBMA Gold Price é um índice global da ICE, utilizado como preço de referência do ouro à vista em dólares. Esse preço, divulgado duas vezes ao dia, é formado pela negociação feita através de leilão eletrônico de ouro custodiado em Londres. Os leilões acontecem de 10:30 até 15:00 (horário de Londres). O preço final do ouro é publicado para a referência do LBMA Gold Price, usado como benchmark do Fundo IAU.
Existem pelo menos 4 vantagens de se investir no BDR de ETF BIAU39, são elas:
1) Você investe (quase) diretamente no ETF IAU no exterior e paga apenas a taxa de administração do ETF listado no exterior, atualmente de 0,25% ao ano.
2) Não há incidência de come-cotas, diferentemente do que ocorre com fundos multimercados de ouro (não listados em bolsa), que sofrem com o adiantamento do imposto de renda duas vezes ao ano, diminuindo a perspectiva de valorização do produto ao longo do tempo.
3) O BIAU39 é tributado como Renda Variável, com alíquota de 15% sobre o lucro obtido, imposto que deve ser pago após o resgate.
4) Acessibilidade, pois ele pode ser negociado de um em um BDR.
É possível investir neste ETF através da Bolsa brasileira (B3), basta buscar pelo código BIAU39 na área de bolsa da sua plataforma de investimentos.
Um ponto de atenção importante de se ter em vista é o aspecto da liquidez do ativo. No caso do BIAU39, por se tratar de um BDR de ETF, um instrumento mais recente no mercado brasileiro, ele ainda não é tão conhecido e operado, o que faz com que o ativo tenha baixa liquidez, menor do que a liquidez do GOLD11, por exemplo. Isso pode dificultar as negociações, tanto na compra quanto na venda, principalmente para quem busca investir volumes financeiros mais altos e também no momento de resgatar, pois o investidor pode acabar tomando spreads grandes a depender do fluxo disponível no book de ofertas no momento da negociação.
Já se o seu desejo é desfrutar das vantagens de investir no exterior diretamente, o que faz todo sentido para quem busca pela proteção viabilizada ao ter seu patrimônio ou parte dele vinculados à outra jurisdição, mais segura do que o Brasil, então, você pode investir em ouro através dos seguintes ETFs globais:
SPDR Gold Shares - GLD
O ETF SPDR Gold Shares (GLD) se destaca como o maior e mais líquido fundo de índice de ouro fisicamente lastreado no mundo. Seu objetivo é seguir o preço do ouro à vista (spot) no mercado.
O SPDR Gold Shares foi lançado inicialmente na Bolsa de Valores de Nova York em novembro de 2004 e passou a ser negociado na NYSE Arca desde 13 de dezembro de 2007. Além disso, as cotas deste ETF estão disponíveis para negociação em diversas bolsas internacionais, incluindo a Bolsa de Valores de Cingapura, de Tóquio, de Hong Kong e a Bolsa Mexicana de Valores (BMV).
A ampla adesão ao GLD provém da sua correlação direta com o preço do ouro em barra, tornando-o uma escolha atrativa para os investidores que querem exposição ao metal precioso. Seu volume robusto de negociação e baixo índice de despesas (com taxa de administração de 0,40% ao ano) fazem dele a opção preferida de muitos que buscam investir em ouro.
É possível investir neste ETF através da Bolsa brasileira (B3), basta buscar pelo código GLD na área de bolsa da sua corretora americana ou da sua plataforma de investimentos no exterior.
iShares Gold Trust - IAU
O iShares Gold Trust (IAU) é um ETF negociado nos Estados Unidos que proporciona aos investidores exposição ao preço do ouro, consiste em um dos ETFs de ouro mais negociados no mundo, que acompanha o desempenho do ouro físico, ao seguir a variação do índice LBMA Gold Price. Isso significa que o valor do ETF IAU é determinado pelo preço de mercado do ouro, que pode ser afetado por fatores como oferta e demanda, condições econômicas e geopolíticas.
Por sua vez, o LBMA Gold Price é um índice global da ICE, utilizado como preço de referência do ouro à vista em dólares. Esse preço, divulgado duas vezes ao dia, é formado pela negociação feita através de leilão eletrônico de ouro custodiado em Londres. Os leilões acontecem de 10:30 até 15:00 (horário de Londres). O preço final do ouro é publicado para a referência do LBMA Gold Price, usado como benchmark do ETF IAU.
O objetivo do iShares Gold Trust é que o seu valor reflita o preço do ouro detido pelo Trust num determinado momento, menos as despesas e responsabilidades do Trust. Apoiadas por ouro físico, as cotas do Trust são garantidas por ouro, identificado nos livros do custodiante como propriedade do Trust e mantido pelo custodiante em cofres seguros de custodiantes qualificados ao redor de Nova Iorque, Toronto, Londres e outros lugares.
Com índices de despesas competitivos (taxa de administração de 0,25% a.a.) e acompanhamento consistente dos preços do ouro, o iShares Gold Trust continua sendo uma escolha atrativa para os investidores.
Embora tenha custo de administração menor do que o maior ETF de ouro do mundo (SPDR Gold Shares - GLD), o IAU tem liquidez menor. Porém, isso não é um problema para investidores de volumes financeiros relativamente baixos e é uma ótima alternativa para quem busca ter custo menor com taxa de administração.
abrdn Physical Gold Shares ETF - SGOL
O Aberdeen Standard Physical Gold Shares (SGOL) é um ETF que busca refletir o desempenho do preço do ouro em barras, menos as despesas do Trust. O Fundo está disponível para negociação nas bolsas dos Estados Unidos, México e Reino Unido.
Um ponto forte do ETF SGOL é o suporte físico, pois o Trust mantém barras de ouro físico alocadas armazenadas em cofres seguros em Londres, no Reino Unido. O Bureau Veritas Commodities UK Ltd, um auditor líder em commodities físicas, inspeciona o cofre duas vezes por ano (incluindo uma vez aleatoriamente).
Somado a isso, tem-se a transparência, uma vez que o metal é mantido em barras alocadas e uma lista de barras é publicada diariamente em abrdn.com/usa/etf.
O gestor do ETF busca manter apenas barras de ouro London Good Delivery que foram refinadas em ou após 1º de janeiro de 2012 (também chamadas de "ouro pós-2012"). Todo o ouro pós-2012 foi refinado de acordo com a Orientação sobre Ouro Responsável da London Bullion Market Association ("LBMA") (a "Orientação sobre Ouro"), que exige que as refinarias demonstrem seus esforços para respeitar o meio ambiente e combater a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo e os abusos dos direitos humanos.
Em comparação com os outros ETFs de ouro do mercado, o Aberdeen Standard Physical Gold Shares consegue ser bastante competitivo no índice de despesas, com taxa de administração de 0,17% a.a, um dos menores custos face aos pares.
SPDR Gold MiniShares - GLDM
O SPDR Gold MiniShares (GLDM) é um ETF que oferece aos investidores uma das menores taxas de despesas disponíveis para um ETF fisicamente lastreado em ouro listado nos Estados Unidos.
O SPDR Gold MiniShares oferece uma maneira conveniente para os investidores acessarem o mercado de ouro e tem como objetivo fornecer a eles um menor custo total de propriedade por períodos mais longos. Isso ocorre porque este ETF representa taxas de propriedade benéficas fracionárias e indivisíveis no Trust, que detém apenas barras de ouro físicas e, de tempos em tempos, dinheiro.
Dessa forma, para investidores que buscam um ponto de entrada menor no mercado de ouro, o SPDR Gold MiniShares (GLDM) serve como uma opção interessante, pois geralmente negocia a um preço de cota mais baixo em comparação com alguns outros ETFs de ouro dos Estados Unidos, tal como o SPDR Gold Shares (GLD) e o iShares Gold Trust (IAU).
Apesar de sua menor capitalização de mercado em comparação com outros ETFs de ouro, o GLDM demonstrou retornos consistentes ao longo do tempo, sendo a sua principal vantagem o seu preço de cota mais baixo, que o torna mais acessível para investidores de varejo, proporcionando uma via para diversificação nas carteiras.
Bullion Coins: uma alternativa acessível para ter ouro físico
As bullion coins, ou moedas de bullion, são uma das formas mais tradicionais e confiáveis de investir em ouro. Diferente das moedas de colecionador, que possuem valor agregado devido à sua raridade ou características históricas, as bullion coins são emitidas com o principal objetivo de servir como meio de investimento, com seu valor diretamente atrelado ao preço do ouro no mercado. Essas moedas são cunhadas por casas da moeda governamentais e são garantidas pelo governo em termos de peso e pureza do metal precioso.
A principal vantagem das bullion coins é que elas representam uma forma tangível de propriedade de ouro, oferecendo aos investidores a oportunidade de possuir o metal físico. Além disso, elas são amplamente aceitas e reconhecidas no mercado internacional, o que facilita a negociação em diversas partes do mundo. Entre as moedas mais populares estão o American Gold Eagle, a Canadian Gold Maple Leaf, o Krugerrand da África do Sul, e a Austrian Gold Philharmonic.
Essas moedas possuem algumas características que as tornam atraentes para os investidores. Primeiro, a pureza do ouro das bullion coins é extremamente alta, geralmente variando de 0,999 a 0,9999 (24 quilates). Além disso, elas são relativamente fáceis de armazenar, dado seu tamanho e peso, e podem ser compradas ou vendidas facilmente por meio de revendedores especializados ou em mercados de metais preciosos.
Outro ponto importante a considerar é que, além de sua função como investimento, as bullion coins também oferecem benefícios fiscais em alguns países. Em determinadas jurisdições, como nos Estados Unidos, a compra e venda de ouro em forma de moedas bullion pode ser isenta de certos impostos, como o imposto sobre vendas ou o imposto sobre ganhos de capital, dependendo da situação.
No entanto, assim como qualquer investimento em ativos físicos, as bullion coins também apresentam desafios. O custo de aquisição pode ser um pouco mais alto em comparação com outros instrumentos de investimento em ouro, como os ETFs, devido à cobrança de prêmios sobre o valor de mercado do ouro e as taxas de armazenamento. Além disso, o risco de segurança associado ao armazenamento físico das moedas não pode ser negligenciado, exigindo que o investidor tome precauções, como o uso de cofres ou serviços de custódia especializados.
As bullion coins são uma forma eficiente e tangível de investir em ouro, oferecendo a vantagem da posse física do metal e a segurança de moedas amplamente reconhecidas. No entanto, como qualquer investimento, é importante que os investidores considerem suas preferências pessoais e objetivos financeiros antes de escolher essa opção, levando em conta aspectos como custos, segurança e flexibilidade de negociação.
Paloma Brum
Head Comercial da Mazi Capital, Economista (Ibmec), Analista de Investimentos CNPI e Consultora
CVM com vasta experiência em análise macroeconômica e na alocação de recursos em Renda Fixa e
Renda Variável, no mercado brasileiro e no exterior.